sexta-feira, 24 de novembro de 2017

A despedida que eu vi! Fidel, o campeador que segue vencendo batalhas depois de morto

Túmulo de Fidel Castro entre José Martí e os mártires de 26 de julho - Santiago de Cuba | Foto: Maria Leite
Por Maria do Carmo Luiz Caldas Leite*

Na manhã do dia 26 de novembro de 2016, após receber a notícia da morte de Fidel através de uma amiga, trabalhadora do Minrex de Cuba, a emoção abriu espaço às lembranças dos momentos em que me acerquei ao comandante: nas festas de 26 de Julio, na abertura dos Jogos Pan-americanos de 1991, na viagem à Santa Clara durante o traslado dos restos mortais de Che, na missa de João Paulo II celebrada na Praça da Revolução, nas comemorações de 1° de maio, nos eventos de Pedagogia em La Habana e muitos outros. Acalmada a borrasca, secadas as lágrimas, me vieram à mente as lições, as palavras comprometidas de forma indissolúvel com a ação e desprovidas de retórica banal, os discursos iniciados com um som quase inaudível que, pouco a pouco, despertavam um estado de graça irresistível. Isso tudo, apenas poderão negar os que não tiveram a glória de escutá-lo. Com mais tranquilidade, comecei a concretizar o plano de toda a vida: ir a Cuba na despedida do comandante, o campeador invicto, que deixou ao mundo um legado de resistências e de vitórias.

Quando da morte de El Cid - Rodrigo Díaz de Vivar -, em 1099, as fortalezas de Valencia se abriram. Por elas saíram a galope todos os cavaleiros, com Vivar morto, mas no comando das tropas, munido de armas e a cavalo, para que seus homens recuperassem a moral própria dos vencedores. Em discurso pronunciado por ocasião do 60° aniversário de seu ingresso no curso de Direito, Fidel resumiu, melhor do que ninguém, a sua existência: “El día que me muera de verdad nadie lo va a creer. Podría andar como el Cid Campeador, que ya muerto lo llevaban a caballo ganando batallas”.

Fidel dominava uma rara virtude política, que é a faculdade de vislumbrar futuros acontecimentos, não como um exercício de adivinhação, mas pela análise do contexto. Por essa trilha, continuamente pensava: onde será a última morada do comandante? Após uma longa viagem de 45 horas, de São Paulo a Santiago de Cuba, fui diretamente ao Cemitério Santa Efigênia, e lá estava, no mesmo local onde sempre eu havia imaginado, a tumba de Fidel, entre o mausoléu de Martí e dos mártires do Quartel Moncada.

A trajetória do cortejo, em sentido inverso a dos revolucionários de Sierra Maestra na Caravana de Liberdade, culminou com a chegada das cinzas de Fidel a Santiago de Cuba, em 3 de dezembro de 2016. A cidade, onde não há uma única pedra que algum dia não tenho sido lançada contra um inimigo, fala com eloquência de uma cultura síntese entre o espanhol, o africano e o latino-americano. Nesta ocasião, a serenidade e a tristeza lotaram ruas e praças à espera de seu líder. Em que pese o profundo processo educativo realizado pela Revolução, o povo presente à despedida, assim como eu mesma, parecia repetir as inspiradas palavras de Raúl Torres: Padre Mio, no te sueltes de mi mano, aún no sé andar bien sin tí.


(*) Membro do núcleo da Fundação Maurício Grabois de Santos e Região; Diretora de relações internacionais da Associação Cultural José Martí da Baixada Santista; Professora de Física e doutoranda em Educação.

2 comentários:

  1. → Cabalgando con Fidel - canção composta em 26 de novembro de 2016
    ¡Hasta siempre, Comandante Fidel!
    #VivaLaRevolución 🇨🇺

    https://youtu.be/Ae1GtR5peNk

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  2. Sturt, obrigada, camarada. Maria Leite

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